segunda-feira, 20 de julho de 2009

Estudos de Avaliação de Protocolos Clínicos 1 - SDM para seguimento de diabetes

Sugiro que você faça uma experiência:

Abra uma ferramenta de busca bem popular para documentos científicos, como o google acadêmico, e digite na guia de busca: "protocolo diabetes avaliação". (os "doutores universitários" talvez riam de mim porque não sugeri uma ferramenta de busca mais "respeitável", rsrsrsrs!)

Você verá surgir uma lista de artigos recentes sobre o assunto. Os dois primeiros e mais citados da lista - usei o mozila firefox e fiz a busca pelo google acadêmico, na data de hoje - foram nessa ordem os artigos abaixo:

  1. ASSUNCAO, Maria Cecília F; SANTOS, Iná da Silva dos and GIGANTE, Denise P. Atenção primária em diabetes no Sul do Brasil: estrutura, processo e resultado. Rev. Saúde Pública [online]. 2001, vol.35, n.1, pp. 88-95. ISSN 0034-8910. diponível online em:
  2. ZANETTI, Maria Lúcia et al. Evolução do tratamento de pacientes diabéticos utilizando o protocolo staged diabetes management. Acta paul. enferm. [online]. 2007, vol.20, n.3, pp. 338-344. ISSN 0103-2100. disponível online em:
O primeiro fala das deficiências estruturais, processuais e de resultados da Atenção Básica do município de Pelotas, RS, para diagnosticar e acompanhar adequadamente, segundo as recomendações da American Diabetes Association – ADA. O segundo, mais antigo, mostra os resultados da adoção do STAGED DIABETES MANAGEMENT - SDM como protocolo de acompanhamento clínico de pacientes portadores de diabetes tipo 1 e 2 em um centro ambulatorial universitário em Ribeirão Preto, SP.
Segundo o artigo 2, "o SDM é um protocolo de atendimento sistematizado ao paciente diabético desenvolvido pelo International Diabetes Center, em Minneapolis (USA), [...] contendo um livro texto e dois Guias Rápidos para direcionar o atendimento ao paciente diabético. Os Guias Rápidos são documentos baseados nas recomendações da American Diabetes Association, do National Diabetes Data Group, do International Diabetes Federation e da Organização Mundial da Saúde"(p339).
O interessante desse segundo artigo é que a clientela excluída do estudo representa boa parte da demanda na Atenção Básica:
"Foram excluídos os pacientes com diabetes gestacional; com cadastro incompleto; os que não foram localizados; os que se recusaram a participar do estudo; os que faleceram; os que referiram dificuldades para participar do atendimento por motivo de trabalho ou estudo; os que
referiram estar participando de outro atendimento pelo convênio de saúde"(p.340).

Do universo de 240 pacientes do ambulatório, foram estudados 57, entre 28 e 72 anos, com mediana de idade em 60 anos, após aplicação dos critérios de exclusão. E os resultados após um ano de aplicação do referido protocolo foram:

"Houve aumento no cumprimento do plano alimentar pelos pacientes diabéticos, de 61,1% no início para 92,6% no final de um ano. No que se refere à atividade física, observou-se aumento de 57,4% para 66,7%. Verificou-se também um aumento da cobertura medicamentosa no tratamento do diabetes.(resumo)"
"Em relação à terapêutica medicamentosa com antidiabéticos orais, observou-se um aumento do número de pacientes que utilizaram Biguanidas como monoterapia e dos que faziam uso de Biguanidas em associação com Sulfoniluréias. Quanto ao uso de insulina, constatou-se redução do número de pacientes que utilizavam insulinaNPH como monoterapia e aumento do uso de insulina NPH em associação com insulina regular (p.341)."
"[...] Ao investigar a presença de episódios de hipoglicemia, antes e depois da implementação do
Protocolo SDM, obteve-se que, dos 54 pacientes estudados, 50% referiram episódios de hipoglicemia, antes de iniciar o tratamento com o Protocolo SDM, e 59,3% após o início do tratamento (p.341)".

Embora publicado em tom de comemoração no artigo, a adoção do tal SDM no ambulatório citado, mesmo excluindo todos os pacientes que a AB jamais poderia excluir, causou maior medicalização, com maior uso de medicamentos, mais consumo de insulina em associação, maior número de episódios de hipoglicemia - considerando que a maior parte dos pacientes era de idosos e o altíssimo risco associado à episódios de hipoglicemia nessa faixa etária - o que, certamente foi realizado à custa de um aumento da frequência dos pacientes no serviço e também aumento da dependência destes pacientes das prescrições do serviço, chegamos a conclusão que seria uma pessima idéia adotar esse protocolo para a AB em um município.

Mas aí qual não é a surpresa que o município de Pelotas, RS, teve sua AB avaliada negativamente, como nos mostra o artigo número 1 da nossa lista, de 2007, com critérios surgidos da mesma American Diabetes Association?

Leiam os artigos e vejam por sí mesmos... O que queremos para a AB?

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